domingo, 30 de dezembro de 2012

1929 (Quinta-feira Negra)


Hoje acordei
E vi um corpo morto no meu quarto.
Não só no quarto,
Sobre a cama. Sim. Só sobre a cama.

Um corpo insolente. Indigesto.
Parecia passar fome.
Parecia chorar de amor.
Parecia parecer ter todos os sonhos do mundo.

Não era um corpo qualquer.
Não era corpo de velório.
Nem corpo de farmácia. Não era de moça.
Nem de médico. Nem parecia corpo.

Era um homem.
Homem chorador.
Homem que nem é homem.
Logo pôs-se de pé.

Sentou à mesa. Rezou o terço.
Contou da nova namorada.
Espere. Parou. Deu um rosnado.
O homem, meu deus, era um bicho.

Bicho calado. Bicho cheio de manhas.
Saiu correndo.
Não se despediu.
Foi embora viver.

João Gonçalves

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