segunda-feira, 29 de abril de 2013

Filosofia de Pub




            Sim, eu pensei em fazer uma dura crítica à prática de se discutir filosofia em certos recintos, como os bares luxuosos das grandes cidades. Porém, ao organizar meus pensamentos, percebi que esse hábito pode ser beneficente para a sociedade em geral, haja vista a arrecadação de alimentos para a constituição de cestas básicas. Entretanto, o diabinho em mim prova que a ingenuidade tende a ser uma venda intransponível e é melhor manter os olhos bem abertos, pois não são somente boas as ações que orientam as reuniões dominicais de amor à sabedoria. Existe a vaidade, e, muito mais que isso, existe o descaso. E cá entre nós, que descaso, caros senhores.
            Os discursos são históricos e a interpretação deles adequa-se às necessidades do contexto de cada época. No caso da filosofia, o que se vê hoje é a reutilização da tradição ocidental para que as ações de melhoramento da vida sejam legitimadas. Sim, a filosofia serve ao homem que a sustenta, e o bem estar da sociedade deve estar em pauta em nossas discussões cotidianas, mas quem enuncia esse tipo de discurso e está por trás da transposição do saber humano da academia para os palcos de boteco? Quanto realmente vale a filosofia para a sociedade contemporânea?
            Prezados, o que se vê são olhos cobiçosos, relógios reluzentes, vestidos rodados e corpos bem definidos. A mesa mais prestigiada é aquela cuja conta chega às alturas. O homem do centro é elogiado por sua pose de herói, seu jeito educado, sua fala mansa e sua boa articulação com as palavras. Um verdadeiro show man. Detalhe: ele veio de baixo. Sim, o homem do centro formou-se em Filosofia. Outros que vieram do mesmo lugar que ele, constituem minoria. Graças ao esforço desse profeta de braços fortes, os mais abastados tem acesso em um domingo ao conhecimento acumulado pela humanidade ao longo da história, enquanto brindam aos amigos e preparam-se para o começo da semana. Enquanto isso, os verdadeiros filósofos estão se matando para manter um ramo que aos poucos vai sendo esquecido. Na educação básica, a Filosofia é a matéria menos importante. No vestibular, o curso menos concorrido. A produção genuína do saber vai sendo obliterada pelas dietas filosóficas e os exercícios de iluminação da alma, e a razão, que era utilizada para problemas políticos e existenciais, hoje serve de auxílio (sim, apenas auxílio) para a manutenção do bem estar individual. O que interessa é sentir-se bem, não encontrar respostas para tudo.
            Esse tipo de conversa me cansa. Preciso urgentemente de um terapeuta. Não quero que ele me recomende nenhuma espécie de leitura, pois aos domingos tomarei aulas de Kant, Spinoza, Hegel e outros, enquanto seco meu copo de cerveja alemã. Quem sabe não surge a oportunidade de fazer uma pergunta bacana, só para mostrar aos outros que eu sei alguma coisinha? Ah, quero sentir-me bem, isso é o que importa. Garanto que muitos doutores seriam mais felizes se dessem aula em botecos.

Fernando Costa e Silva
           
           

domingo, 28 de abril de 2013

Palavras de Amor: Impressões de um Louco




Ela construiu um abismo entre nós. Terá noção da dor que isso causa? Estará sofrendo também? Desse lado, onde tudo é escuro e sério, não há mais nada além de luto e saudade. Entretanto, daqui posso ouvir suas risadas: percebo que a felicidade se apropriou dos momentos em que ela não está sozinha.
            O que me resta? Parte de mim não quer que eu supere, insiste em estar apegada ao rascunho de um sonho. Ela, porém, da última vez que nos vimos, parecia convicta. Suas palavras saíam automaticamente... A indiferença cortou-me em vários pedaços e sua pele tornou-se áspera para os meus dedos. Mesmo assim, por sentir-me muito envolvido, continuei insistindo. Talvez estivesse enganado, mas achava que ela ainda queria. Quem sabe estivesse lutando consigo mesma dentro daquele coração tão perfeito. Ah! O coração que tanto tenho desejado!
            Não me imagino sem ela. Na verdade, não quero de volta a rotina que sempre havia me enganado. Conheci o lado lindo da vida e não estou apto a abrir mão dele de uma hora para outra. Sofrerei muito, tenho plena certeza. Ah! O desespero embaralha meus sentimentos! Sei que devo esquecer, mas não posso, pois meu coração ainda treme de esperança. É impensável para mim a possibilidade de não tê-la. Não há opinião nem entre os mais céticos sobre a certeza que se apossa dos corações apaixonados. O Sol nasceu, está surgindo outro dia. Não estou pronto para nada, mas levo a vida de gota em gota.
            Exponho agora o meu medo de palavras mordazes. Fujo impacientemente de assuntos que me deixam comovido. Quando estou triste, exagero. Qualquer verdade a mim proferida, dói como uma serra atravessando meu corpo. Confesso não ser de todo inocente: falei coisas sofridas quando estava desesperado. Só de pensar no que eu disse, meu coração acelera. Que saudade dos suspiros que inúmeras vezes trocamos!
            Sim, sou uma expressão da loucura, mas se trata de uma loucura apaixonada. Darei prosseguimento à minha vida, e enquadrarei aos poucos o que estou sentindo na sessão da minha casa onde estão à mostra os quadros das grandes desesperanças. Não estou convicto, pois o conflito persiste em meu peito e ainda espero que ela, num insight que posso chamar de revolucionário, perceba que sou como ninguém e que valho o mais caro sacrifício. Nesse instante, poderia estar cantando, lavando louça ou perdida ao se lembrar dos momentos que juntos vivemos. Deixe estar, coração, não se apegue a outras ilusões profanas! Não existe mais um mestre da vida: cada dia é construído através do movimento entre o que eu acredito e as circunstâncias espalhadas por onde atravesso. Deixe os dias passarem. Só amanhã terei certeza das coisas que não me aconteceram hoje. Para longe, coração, deixe a febre da loucura!

Fernando Costa e Silva

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Você é muito piegas!



A moça sussurra, dilacera.
Transforma a própria voz num reduto do eterno.
“Poesia é um bicho”.

Abordarei, aqui e agora, o fim como temática sombria.
Fim como expectativa derradeira da dor.
Fim como visita inesperada,
sofrimento antecipado.
Mas, e a beleza clarificada das coisas findas?
O romance findo,
o mistério desmistificado,
o livro lido,
o poema escrito,
a hora passada, o minuto contado.
E a beleza da moça, onde fica?
Fim não é do mundo.
Fim é seu, somente.
Faça dele o que bem entender.

Enquanto amantes desfilam seu grande e interminável
amor
por entre as gentes,
e o imbecil finaliza seu último
poema inusitado.
Portanto, não se mate, eu imploro.
Apenas siga seu poema em linha reta. 
João Gonçalves

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Longe do Sol



Minha perspectiva mudará aos poucos
Sem você que agora vai se afastando.
Não sumirá para sempre de mim,
Pois eu me abasteço de ti e sua alma me ama.

Mas fugirá do Sol, pois ele queima:
Seu corpo estremece quando estamos juntos.
Já esteve aqui? Imaginei que poderíamos...
Ei, olhe esse vestido, não se parece com o céu sublime?

As palavras pedem que as bocas calem.
Quanto mais dias passarem, precisarei de mais abraços.
Não pense agora, planejarei nosso futuro,
Que tal uma fuga? Pulemos juntos nesse abismo,
Afinal, não é meu cheiro que lhe preenche?

Fernando Costa e Silva