Este
trabalho tem por objetivo saber por que tudo é uma merda quando se tem 20 anos
de idade. Para isso, partimos da premissa de que tudo é uma merda quando se tem
20 anos de idade. O recorte temporal estabelecido coteja os 20 anos de idade do
autor, considerados uma merda. Os conceitos a serem trabalhados são os de
rebeldia sem causa, fobia a responsabilidade, inconsequência e desapego, além
do conceito de merda. Este último é especialmente definido: merda é o que poderia
ter sido; a desagregação de planos ou a incerteza de passos que precisam ser
dados; o resultado de um desapontamento. Muito mais do que aquilo que não serve
ao organismo, a merda é o que sobra das esperanças de quem luta, no constante
jogo do mastigar e engolir, pela preservação da vida e reabastecimento das
forças. É o que fica depois que a dedicação passa pelo sistema digestivo: sem
nenhum remorso, lá vai descarga!
A
vida só é uma merda quando se tem 20 anos de idade, porque o senhor adolescente
que considera a vida uma merda quando se tem 20 anos de idade, acha que o mundo
gira ao redor de sua merda, ou melhor, vida. Porque percebe que escolhas precisam
ser feitas para que a fase adulta comece. Este pequeno rebelde passa a perceber
que já se passaram 20 anos de vida, quer dizer, de merda, e pouco de relevante
foi feito por suas mãos. Nessa idade, seus tios já trabalhavam... Muita gente já
estaria rica aos 20 anos... O que é isso que estou ouvindo? Legião Urbana?
Nesse
mortal jogo do vai e vem, de pretensas amizades, delírio ao alcance das mãos,
baile das aparências, relações de interesse e embrutecimento precoce, cresce a
erva daninha. De que maneira desapegar-se e perder as esperanças? Mais uma vez,
o coração romântico se desespera. Seus caros amigos, acumulados no decorrer
desses 20 anos (de merda), poderão ouvir seu pulsar cada vez mais acelerado? E
se ouvirem, poderão prestar socorro? Venha, solidão, venha! Procurem o avião
que livrou-se do mundo, e tragam-no de volta aos homens que choram culpa!
Conclui-se
que nada serve e nada vale. Nada vale. Entretanto, torna-se necessário crer que
um dia, quando porcos tiverem que vender seu lombo a fim de garantir seu
sustento, quando as sereias se sentirem ameaçadas e derem falta do conforto que
é o fundo do mar, quando pedirem que laços sejam reatados, mas encontrarem a
corda queimada, a merda esteja lá, firme, forte e potente, entupindo o fluxo
hidráulico e provocando derramamento de água suja pela casa. Há que crer no
futuro, moçada!
Fernando Costa e Silva