sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Fim da Jornada


Queime como meus nervos,
Suma feito fumaça.
Sinto dores terríveis quando penso que os homens,
Em seu afã de poder, cometem as mais vis desumanidades.

Pareceu como que tomada de uma força
Que quisesse expulsar qualquer coisa que me mencionasse.
Era a força da ira frente a multidão revoltosa.
O patrão ficou pasmo com o disparate e temeu a tortura.

Estúpida como sempre fora, mostrou quem era realmente.
Amor com prazo de validade? Amor sem coragem de loucura?
Parte dos companheiros voltou-se contra a turba,
Aliando-se aos senhores que pediam nossas cabeças.

E aos poucos, o tempo vai curando minhas feridas.
Espero que logo passe, que eu erga a cabeça.
Tomaram nossos sonhos, queimaram nossas bandeiras,
Enjaularam os meus camaradas e implantaram a ditadura.

Fernando Costa e Silva

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Alegria, Alegrai-vos.

 E deste pouco, pouquíssimo, que resta,
dou um último aceno:
“Desisto do que mais que me possa matar”.

Minha pena é demais pro corpo estilhaçado.
Eu não sou daqui
nunca fui de parte alguma
e não há morte a me pegar atrás da porta.
Os monstros sumiram
as dúvidas se aquietaram
mas os tiros, (santos tiros), não cessam
não hão de cessar.

Para todos vocês, marinheiros,
carrascos e falsos pilantras:
“Desisto do que mais que me possa matar”.

Não há mais corpo junto aos membros,
e, repito, por que raios vim parar aqui?
Eu não sou, não estou,
Não pertenço a estes grupos.

Não equivoquem-se
Nem se redimam. Ninguém se importa, ou importará.
E termino por homenagear meus assassinos:

“Desisto do que mais que me possa matar”. 

João Gonçalves

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Entre Dar e Padecer

Há bolor contínuo estre janelas,
ou nas janelas, sobre as janelas.
Os móveis marrom-acácia envelhecidos
conjuntamente, justapostos de maneira desigual,
logo, não justapostos,
desiguais como as poesias soltas sobre a vertigem,
o rastro pueril da briga,
última briga,
últimos passos,
da guerra eterna dos relacionamentos sociais.


Macabros, sinistramente desejáveis,
absurdamente prazerosos,
idiotamente equivocados.


Na parede dos fundos, o vazio.
Vazio como esta solidão intrínseca, que agora reina.
A parede é minha vida,
e a solidão, gradativa.
Inexorável, inabalável, austera, rígida.
Solidão e sua necessidade cativa de versos.
No fim, não há a quem o poeta recorrer.
Poeta solitário, por sina,
poesia solitária,
solitárias palavras.


E ainda a foto carismática na estante manca.
Carismática de dar enjoo
ânsias de sentimento inacabado.
O hálito quente
a voz arrastada
o suor, o cansaço.
A angustia precedente
o sofrimento interminável
tudo num retrato.

Do resto, abandono. 
Ferida entreaberta, 
nesta cidade que cheira a pó
rancor
e inquietude sem fim. 
A casa já não é mais casa, 
o homem, reconstrução. 


João Gonçalves




domingo, 11 de agosto de 2013

Poesia Em Jangada


É a politização da poesia. Derrubemos os muros que nos separam da realidade. Por meses, mantive as mais absurdas esperanças em meu coração, mas minha vida pouco mudou pela influência de meus versos vulgares. As jornadas de junho não possuíam nenhum ar romântico ou utópico. Vimos a luta concreta, a capacidade de transformação das coisas, sejam quais forem, sejam quais forem seus pretensiosos donos. Tendo esse contexto em mente, serei como a cheia do rio, e invadirei as casas da população miserável que trabalha e sofre, que peca e se arrepende, que sobrevive. O sentimentalismo piegas tornar-se-á força de combate, e a morte, presente nos mais melancólicos versos deste poeta, cederá seu espaço à luta pela liberdade.
A poesia será o palco de discussão das pautas. Aos companheiros que estiverem comigo nesta luta, dedicarei os meus versos. Hei de me expressar contra a opressão histórica que atravessa a humanidade, e me empenharei pela conscientização dos que passarem junto ao rio que atravesso. A partir de agora, minha poesia põe o teor escatológico de lado, deixando de crer em um fim de mundo que seria puro pessimismo. Neste momento, abrem-se as portas de novas possibilidades. Cantarei o fim deste mundo que é opressão, e abrirei os braços para uma sociedade igualitária.
Como disse Marx: “A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis” (Teses sobre Feuerbach). É tempo de relembrar as crises do passado. É hora de transformar o presente.
A poesia social de Gullar vai ser revisitada. Me empenharei pelo popular, pela capacidade de transformação latente nas massas. Que meu esforço perdure e venha a ser significativo. Que a poesia me transforme e influencie o mundo que me rodeia.
Um último brinde aos poemas tristes que maculavam meu coração ingênuo! Saudações ao racional e prático que se manifesta agora! Deixo o romantismo de lado. Que venha o radicalismo. A luta por um amor proibido cederá lugar à luta classista. Abaixo à opressão de classes!

Fernando Costa e Silva

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Horrorshow

Nada me importa em hora alguma.
Nada, ninguém ou qualquer coisa que valha.
Não decoro discursos
e nem mesmo opino sobre a verdade alheia.

Nada me interessa nesta história
nenhuma ideia pestilento-critica difamada.
Guarde para si qualquer evidência.
Eu pouco ligo ou ligarei.

Tenho fiel apreço pelas causas moribundas
e restos me atraem de maneira indigesta.
Das vezes que me assassinaram
pouco sobrou para amar,
ou qualquer destas inquietações humanoides.

Deem-me o sangue das futuras gerações
que pouco vale ou irá valer.
Nada presta, neste mundo,
e disto tudo
resta pouco, pouquíssimo.

João Gonçalves