quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Goiânia



Pela vez derradeira
Deixe-me sentir a cidade
Que se enfeita a cada dezembro,
Que entope as artérias com carros
E os pulmões com a mais negra fumaça.

Não há tempo que me ature
Nem planeta que me sustente.
Enquanto critico o moderno
Todos lutam por dinheiro
E os prédios e condomínios
Brigam pela periferia.

Só resta aos velhos a dor do passado.
Ainda ouço a história
De saudade por dias mais calmos
Abafados por cruéis buzinas
E pelo som das igrejas
Que amam as coisas terrenas.

Ilógico sou eu, poeta do prato raso,
Do amor sensual, da vida pitoresca.
Mergulho com minhas palavras na grande onda de assaltos
E observo atento aos moleques de pés descalços e olhos vermelhos.

Não há quem perceba
A importância de jovens sensíveis
Que temem as consequências
Para o futuro que grita.
Deixo felizes momentos
Que nunca me foram tão caros.
Deixo sentido a cidade
Que cobre sua pele com asfalto,
Que arranca seu verde e progride
E promove a falência das almas.
Fernando Costa e Silva

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Desapego




O “sexo frágil”,
É algo mais forte,
Que o aspecto “selvagem”,
Do caos urbano dos dias de chuva.

A menina inocente,
Tinha trocentos namorados.
Que se conheciam,
E, moderadamente, se amavam.

Hipocrisia é fato corrente,
Sinto-me bem nesta margem.
Carrega-me.
Forja-nos.

Teus gemidos sombrios,
São realmente sombrios.
Teus demônios internos,
Tentaram.

Moleque tava sentado.
Não aprendeu a sorrir.
Não descobriu.
Se matou. Todos morreram.

Não há valor.
Não há razão.
Não há moral.
Sexo frágil.

Instintos podres.
Vontades mórbidas.
Tudo contido,
Na eterna beleza de ser Homem.



João Gonçalves

sábado, 26 de janeiro de 2013

Idade da Pedra Escarlate


Cruel destino, não ouse virar as costas:
Contra vis fatalidades erguerei minha cabeça.
Meu juízo inocente me fez crer em vãs bobagens
E minha sina hereditária acumulou-me de temores.

Mas não se arrisque, tragédia:
Revivi entusiasmado.
Quero sentir o vento que desperta fantasias.
Da cova que o Sol esquenta, nasceu hoje uma rosa,
Bela por ser tão nova e rodeada de esperança.

Dançante surge do sopro fumaça que me tonteia.
Reflito sobre a paisagem que balança sobre meus olhos.
Meus sentidos se equivocam,
Minha mente se derrama.
Enfim estou à vontade
Para ouvir cores queridas.

A solidão é um bom abrigo
Ao proteger jovens incautos de perigos disfarçados.
O amor não se resume a palavras
Que supostamente traduzem
Rasos sentimentos.
Confiarei em minha amada
Quando entregar-me ao sossego,
E por ela esperarei até que eu seja completo.

Deixe que eu conduza
Meus passos calmos, destino.
A fortuna que rege a vida teme minha virtude
E o mundo espera que jovens
Enfeitem o céu com mistérios.

Fernando Costa e Silva


Verdade por Decreto


A noite tráz consigo,
Todas as frustrações,
Todos os desassossegos,
Todas as imoralidades.

Todas e tantas reflexões inúteis,
Sobre o ser e o existir.
Nunca sabe-se nada.
Sempre pensa-se tudo.

Tantas almas desprezíveis,
Tantas traições apaixonadas,
Tantos princípios violados,
Tantas interpretações vazias.

Queria me dominar por completo,
Ou a melhor das fases,
Da minha Lua.
Ser o que sinto.

Prefiro não me adaptar.
Não me subjugar.
Grande mentecapto.
Grande egoísta.

João Gonçalves


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Último dos Poemas Escuros



Uma vez mais me salva a razão
Dos meus sentimentos nunca compreendidos.
Se posta como a faca que separa dois corpos
E obtém a vitória por estar sempre certa.

Quem disse que devo lembrar-me de todos e
O que me define como um ser inocente?
Minha intenção pode ser boa e meu coração nobre,
Mas não proporciono alegria nem estou atento ao mundo.
Sinto inveja de heróis e por isso sou tolo,
Porém não sou pior que ninguém.
Mostre-me sua arte e talvez eu me preocupe.

Não figurará mais em meus sonhos, rara essência;
Louvarei os macacos que estão no centro do templo.
De que vale gastar belas palavras se sou mal interpretado?
Que o sangue continue a correr em mim:
Antes as veias que o ralo.

Vejo com maus olhos o lado escuro da vida.
Encaro a realidade com minha arma engatilhada.
Lá vem a noite assombrada dizer-me o que deve ser feito
Direi a ela que sou homem e prazer é o que importa.

Não se julgam atitudes de um reles patife,
Exilado na montanha em companhia de abutres.
Adeus, ficção sem fim, quero o caminho do nada,
Para acordar sem preocupar-me em fingir felicidade.
Fernando Costa e Silva













quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Imperador Romano de Chinelos



Imperador, tuas frivolidades,
Tuas inconstâncias,
Tuas veias contaminadas, sujas,
Te ferem, soberano, te matam.

Sobe o morro imperador,
 Domine a si próprio. 
Teu império são teus versos.
Tua Roma esqueceu-te.

Teu sorriso menino te escondeu.
Tua ruína o torturou.
Teu pudor frenético não reagiu.
Ainda estás nas escadarias do senado.

Teu povo já não é o mesmo.
Bem sabes.
Todos dizem.
Já não é o mesmo. 

João Gonçalves