quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Parsifal

 Para mudar a realidade,
Ouça-me, não há idade,
Crença, raça, idolatria.
Não há intolerância ao teu tipo sanguíneo.

Para mudar a realidade,
Ouça-me, por boa vontade,
Não podes ser ignoto ou extravio,
Ardiloso, deixas teu completo vazio. Deixas.

Para mudar a realidade,
Por mais que não compreendas,
Esqueça os ditos populares,
As cartas de amor, as dores da infância.

Não importa a tua ascendência,
Ou as diretrizes da tua razão.
Deixa-a, solenemente.
Devore tuas expectativas. Soletre as atitudes.

E interpele o comportamento.
Sempre corra nu por tua mente sã,
Suje as próprias infidelidades,
Destaque cada pequeno ponto da tua face.

Um salto dos comportamentos, atinja o próprio desempenho.
Seja o que nunca foi nunca.
Ou o teu poeta preferido.
O melhor redator das toalhas de mesa.

Portanto, se não ocorrer, descansas.
Volte à velha caixa das lembranças,
Queime-a, num impulso apenas.
Alcance a terra dos sonhos que esperam ser vividos. 

João Gonçalves

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Leito



Imagino-te deitada
Sobre lençóis brancos, agulha presa na veia.
Pálida ao forçar gentileza aos visitantes,
Entediada com o mundo.

Com que frequência visita-te o teu amado?
Considero vital que ele se dedique à tua essência,
Mas aprendo a cada aurora: amor pede descanso.

Quem sabe sendo minha discípula,
Ouvindo o que aprendo, debatendo comigo,
Possamos contribuir para o meio em que vivemos?
Pois é disso, afinal, do que se trata a vida:
Sermos parte do quadro das grandes heresias.
Lembre-me de contar-te sobre o sábio que me chamou de egoísta,
Pois, segundo ele, minha arte é imitativa. Afinal, a arte imita a vida?

Estimo melhoras, senhorita. Cante e espere a solução dos dilemas.
Em casos de desordem natural do corpo,
Só o repouso soluciona.
Fernando Costa e Silva


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Criança com a Boca Aberta


A tempestade densa, tempestade sombria,
Tempestade contínua e desesperada,
Tornou-se uma menina.
Com um lindo sorriso.

Todo amor que há,
Todo carinho bobo, toda vontade doce,
Preencheu teus passos pueris,
Teu sorriso enrustido, tímido.

Das minhas escolhas acertadas,
Sobrou você.
Meu ar obscuro, pensamento carrancudo,
Foi devorado numa tarde.

O Sol sorri ao caminhar.
E faço de ti meu caminhar.
Faço de ti meus melhores passos,
Sempre passo por você ao dormir.

Me dê a tranquilidade de um amor bonito,
Amor meias amarradas, amor de bater botas.
Eu já morri.
Vivo em ti. 

João Gonçalves 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Geração do Espírito



Esse homem ama a inocência,
Marca decisiva da infância.
Quer torná-la eterna
Amando como os contos de fadas,
Ressaltando vermelhas bochechas.

Este outro que lhe opõe
Teme o passado de outras vidas.
Sua ascendência, ao passar pelo mundo,
Sofreu tristes tragédias.

Deem graças ao meu espírito
Que surge do desencontro
Dessas almas atormentadas
Que ao invés do complemento esperado
Opõem-se em classes de sentido.

Gritem meu nome aos planetas
Que fartos do vazio do nada
Invejam o éden da Terra,
Reino do qual me orgulho,
Palco de belas tormentas,
Zona que adora o pecado.

   Grimble Crumble

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Coração Encantado


Corri perigo e escureci ao ver
Velas apagadas por profundos suspiros.
Eu, porém, não supero o desejo.
Aqui estou outra vez, minha alma em consórcio.

Sou escravo de mim, não há quem compreenda,
Nem ninguém que conforte, pois todos são assim.
A razão ajoelha-se aos pés de sérios instintos,
Pensa que pode controlá-los, mas é serva de seu reino.

Eis a piada: chama-se condição humana.
Dói-me o riso que estampo em minha boca,
E dói-me o desejo de estar preso em seus braços.
Para onde irei, se não comando meus impulsos?
Há salvação para aqueles que sofrem sempre em segredo?

Apaixonado coração, entenda que é impossível.
Evite outra guerra, deixe a febre da loucura.
Amanhã ou depois, não passará de lembrança,
E a pedra que julga ser diamante,
Tornar-se-á fútil pedra,
Reluzente empecilho que enfeitou seu caminho.

Fernando Costa e Silva

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

João-Galafoice




Quem dera tomar conta destes passos

Deixar o grupo de apoio

Passar por tantos como um só

Logo eu, ser de pensamento em fronteira.



Inanimado, disforme

Carrancudo.

Minhas lacunas preenchidas de medo,

Logo eu, com minhas meias-palavras.



Com meu exército irresponsável e esquizofrênico,

As minhas artimanhas tamanhas.

Tamanho abismo cívico. Civil.

É um crime estéril. Passional.



Sou minha própria crise

A própria fenda.

O grito abafado,

Em meio aos anjos.



Este anti-herói aqui dentro,

Em profundo diálogo,

Não espera Vossa Majestade Aberração

Para o jantar.



Devorei as próprias lágrimas,

Espero pouco. Pouco. Pouco.

Batem à porta.

Não é ninguém. Nunca é ninguém.

João Gonçalves