quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Goiânia



Pela vez derradeira
Deixe-me sentir a cidade
Que se enfeita a cada dezembro,
Que entope as artérias com carros
E os pulmões com a mais negra fumaça.

Não há tempo que me ature
Nem planeta que me sustente.
Enquanto critico o moderno
Todos lutam por dinheiro
E os prédios e condomínios
Brigam pela periferia.

Só resta aos velhos a dor do passado.
Ainda ouço a história
De saudade por dias mais calmos
Abafados por cruéis buzinas
E pelo som das igrejas
Que amam as coisas terrenas.

Ilógico sou eu, poeta do prato raso,
Do amor sensual, da vida pitoresca.
Mergulho com minhas palavras na grande onda de assaltos
E observo atento aos moleques de pés descalços e olhos vermelhos.

Não há quem perceba
A importância de jovens sensíveis
Que temem as consequências
Para o futuro que grita.
Deixo felizes momentos
Que nunca me foram tão caros.
Deixo sentido a cidade
Que cobre sua pele com asfalto,
Que arranca seu verde e progride
E promove a falência das almas.
Fernando Costa e Silva

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