domingo, 9 de junho de 2013

Juventude

            Quase cinco da matina e os caras não conseguiam pregar os olhos. O show acabou as três, mas os gritos da plateia permaneceriam em seus ouvidos durante um bom tempo. Em cima do palco, cinco sujeitos extasiados pelo álcool e pela bagunça. Nunca se sentiram tão bem assim. Nunca mais deixariam de agir assim.
            Tedd caminhava depressa, parecia fugir dos problemas que o dia seguinte estava lhe preparando. Os rapazes apoiavam-se uns nos outros, cantarolando e espantando os gatos, chutando latas, como se quisessem que o mundo inteiro soubesse que eram jovens e estavam dispostos a tudo para continuarem alegres. Tedd era o mais careta, mas quando sentia-se à vontade, parecia unir o céu nublado e distante com a podridão urbana através de sua guitarra.
            Não eram jovens comuns, pois tinham consciência dos problemas da sociedade. Os arranjos simples das canções, o figurino desleixado e a falta de perspectiva pelo futuro eram sua maneira de portar-se frente à miséria do mundo moderno. Não mais Deus, não mais país e acima de tudo, amor livre.
            O Sol estava despontando quando alcançaram uma praça, e ali sentaram por um tempo até voltarem a ter forças. Fumavam um cigarro atrás do outro. Tedd quis falar sobre as garotas do camarim, ressaltando o comportamento que elas tinham por estar tão perto deles. No fundo se achava digno daquilo. Pregava o ódio pela hipocrisia, sentia asco das relações pautadas por mentiras e “não me toques” babacas. Entretanto, as garotas eram diferentes, pareciam acumular as benesses do mundo embaixo de vestidos pretos e meias calças rasgadas. Nenhuma mulher precisava ser perfeita, o importante era ter cabeça, manter uma conversa com um cara durante mais de cinco minutos, saber quem foi a Nico, quantas mulheres Ringo teve, etc.
            Tedd reparou que levava os brincos de uma fã em um dos bolsos da jaqueta. Sentiu-se inquieto com o que aquilo simbolizava. A cidade voltou a movimentar-se, mas seus corpos pediam cama, desde que após outra dose de conhaque. Não importa o que iriam pensar deles. Eram jovens e vieram ao mundo para isso: fazer a diferença. Quem conseguisse alcançá-los entenderia que não há possibilidade nenhuma de um dia voltarem atrás. A história pede atitude e o mundo é feito de pequenos fachos de luz daquilo que desde sempre conhecemos pelo nome de liberdade.


Fernando Costa e Silva

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