Quase
cinco da matina e os caras não conseguiam pregar os olhos. O show acabou as
três, mas os gritos da plateia permaneceriam em seus ouvidos durante um bom
tempo. Em cima do palco, cinco sujeitos extasiados pelo álcool e pela bagunça.
Nunca se sentiram tão bem assim. Nunca mais deixariam de agir assim.
Tedd
caminhava depressa, parecia fugir dos problemas que o dia seguinte estava lhe
preparando. Os rapazes apoiavam-se uns nos outros, cantarolando e espantando os
gatos, chutando latas, como se quisessem que o mundo inteiro soubesse que eram
jovens e estavam dispostos a tudo para continuarem alegres. Tedd era o mais
careta, mas quando sentia-se à vontade, parecia unir o céu nublado e distante
com a podridão urbana através de sua guitarra.
Não
eram jovens comuns, pois tinham consciência dos problemas da sociedade. Os
arranjos simples das canções, o figurino desleixado e a falta de perspectiva
pelo futuro eram sua maneira de portar-se frente à miséria do mundo moderno. Não
mais Deus, não mais país e acima de tudo, amor livre.
O
Sol estava despontando quando alcançaram uma praça, e ali sentaram por um tempo
até voltarem a ter forças. Fumavam um cigarro atrás do outro. Tedd quis falar
sobre as garotas do camarim, ressaltando o comportamento que elas tinham por
estar tão perto deles. No fundo se achava digno daquilo. Pregava o ódio pela
hipocrisia, sentia asco das relações pautadas por mentiras e “não me toques”
babacas. Entretanto, as garotas eram diferentes, pareciam acumular as benesses
do mundo embaixo de vestidos pretos e meias calças rasgadas. Nenhuma mulher
precisava ser perfeita, o importante era ter cabeça, manter uma conversa com um
cara durante mais de cinco minutos, saber quem foi a Nico, quantas mulheres
Ringo teve, etc.
Tedd
reparou que levava os brincos de uma fã em um dos bolsos da jaqueta. Sentiu-se
inquieto com o que aquilo simbolizava. A cidade voltou a movimentar-se, mas
seus corpos pediam cama, desde que após outra dose de conhaque. Não importa o
que iriam pensar deles. Eram jovens e vieram ao mundo para isso: fazer a
diferença. Quem conseguisse alcançá-los entenderia que não há possibilidade
nenhuma de um dia voltarem atrás. A história pede atitude e o mundo é feito de
pequenos fachos de luz daquilo que desde sempre conhecemos pelo nome de liberdade.
Fernando Costa e Silva
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