Os
poetas dos fins dos tempos estão na fronteira do servilismo com a rebeldia.
Embalados pelo calor de ilusões profanas, apegam-se a gente de caráter
duvidoso, cuja meta de vida é aproveitar-se ao máximo de bondades alheias. Não
dedicam atenção aos “macacos no centro do templo”: preferem as donzelas
recalcadas. Por mais arrogante que seja a voz que lhes grita, permanecem
calados, com os olhos procurando dignidade no chão plano, enquanto o quarto congela
devido ao ar condicionado. Ainda ecoa a voz de comando: Não entre no quarto
fedendo, dispenso o odor da fumaça.
A
poesia dos fins dos tempos é a expressão dos dilemas próprios da juventude, e
sua especificidade se deve ao fato de ser situada no tempo por seus autores,
que além de egoístas, são historiadores. Os poetas são homens sensíveis, cuja
pele corta-se facilmente com fios de cabelo afiados. São rapazes que convivem
cotidianamente e sofrem com os mesmos problemas, além de desfrutarem de maneira
fútil e simplória da mais fugaz alegria.
Quero permanecer longe das coisas que me atormentam e quero que segunda se apresse. Minha radicalidade é
consequência da luz acesa e da música interrompida. Ando longe de casa, conheci
o infinito. Englobamos o público com o privado e agora enxergo o mundo com outros
olhos.
Se
não temo que o mar me afogue, nem que a Lua me engula repentinamente, se ando
no meio de estranhas pessoas, cuja conversa resume uma vida marcada por
sucessivos fracassos, e ainda não me matei por isso, se deixo de ligar a TV
para afastar-me ao máximo da realidade potencial, se fumo um ou outro cigarro
para sentir-me como dono da vida, por que devo adequar-me a condições prejudiciais à minha
própria existência? Hoje mesmo queimarei minha igreja e distribuirei hóstias
aos famintos.
Que
venha o fim dos tempos! Que a morte a todos contemple! Caros consortes, estamos
em um barco podre de velho, em um mar revolto e desafiador, cujas ondas nos
arremessam às pedras. Abracemos as pedras!
Fernando Costa e Silva
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