quinta-feira, 25 de julho de 2013

Autocrítica Destrutiva

            Os poetas dos fins dos tempos estão na fronteira do servilismo com a rebeldia. Embalados pelo calor de ilusões profanas, apegam-se a gente de caráter duvidoso, cuja meta de vida é aproveitar-se ao máximo de bondades alheias. Não dedicam atenção aos “macacos no centro do templo”: preferem as donzelas recalcadas. Por mais arrogante que seja a voz que lhes grita, permanecem calados, com os olhos procurando dignidade no chão plano, enquanto o quarto congela devido ao ar condicionado. Ainda ecoa a voz de comando: Não entre no quarto fedendo, dispenso o odor da fumaça.
            A poesia dos fins dos tempos é a expressão dos dilemas próprios da juventude, e sua especificidade se deve ao fato de ser situada no tempo por seus autores, que além de egoístas, são historiadores. Os poetas são homens sensíveis, cuja pele corta-se facilmente com fios de cabelo afiados. São rapazes que convivem cotidianamente e sofrem com os mesmos problemas, além de desfrutarem de maneira fútil e simplória da mais fugaz alegria.
            Quero permanecer longe das coisas que me atormentam e quero que segunda se apresse. Minha radicalidade é consequência da luz acesa e da música interrompida. Ando longe de casa, conheci o infinito. Englobamos o público com o privado e agora enxergo o mundo com outros olhos.
            Se não temo que o mar me afogue, nem que a Lua me engula repentinamente, se ando no meio de estranhas pessoas, cuja conversa resume uma vida marcada por sucessivos fracassos, e ainda não me matei por isso, se deixo de ligar a TV para afastar-me ao máximo da realidade potencial, se fumo um ou outro cigarro para sentir-me como dono da vida, por que devo adequar-me a condições prejudiciais à minha própria existência? Hoje mesmo queimarei minha igreja e distribuirei hóstias aos famintos.
            Que venha o fim dos tempos! Que a morte a todos contemple! Caros consortes, estamos em um barco podre de velho, em um mar revolto e desafiador, cujas ondas nos arremessam às pedras. Abracemos as pedras!


Fernando Costa e Silva

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