quarta-feira, 3 de abril de 2013

Flor


Tenho sido amante reprimido.
Esquecido, isolado, reduzido a simples condição numérica.
Vomito e choro e canto e cuspo toda raiva e malcriação dilacerada e eminente.

E, tão triste,
tão triste que as próprias lágrimas soltas choram per si.
Triste de só dormir e acordar, dormir e acordar, dormir acordar, dormir.
Engolir terra e declarar este amor bestial a todo e qualquer
                                                           corpo qualquer que me vem a cabeça.

Não vivendo meus próprios passos por milhas e metros, dias e vidas.
Outras vidas.
Tão distante do que um dia eu quis ser que prefiro esquecer
                                            dos sonhos e rir da injustiça cômica
                      exacerbada e repugnante desse mundo sifilítico.
Mundo que peca com todos e peca por todos.
Mundo posto a venda por quantia irrisória ou parcelado em
                                                             trocentas vezes sem juros.
Mundo vasto de quem não existe.

Insurjo surdamente a partir da pior margem.
Da correnteza suja e imunda das minhas próprias paixões.
Entre as incertezas que cobrem.
Tenho, devo, preciso acordar deste pesadelo inferno que me
                                                                            afunda há séculos.
Grito o que resta.

Problema é o tempo que não passa e queima diabo no corpo. 

João Gonçalves

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