Tenho sido amante reprimido.
Esquecido, isolado, reduzido a simples
condição numérica.
Vomito e choro e canto e cuspo toda
raiva e malcriação dilacerada e eminente.
E, tão triste,
tão triste que as próprias lágrimas
soltas choram per si.
Triste de só dormir e acordar, dormir e
acordar, dormir acordar, dormir.
Engolir terra e declarar este amor
bestial a todo e qualquer
corpo qualquer que me vem a cabeça.
Não vivendo meus próprios passos por
milhas e metros, dias e vidas.
Outras vidas.
Tão distante do que um dia eu quis ser
que prefiro esquecer
dos sonhos e rir da
injustiça cômica
exacerbada e repugnante
desse mundo sifilítico.
Mundo que peca com todos e peca por
todos.
Mundo posto a venda por quantia
irrisória ou parcelado em
trocentas
vezes sem juros.
Mundo vasto de quem não existe.
Insurjo surdamente a partir da pior
margem.
Da correnteza suja e imunda das minhas
próprias paixões.
Entre as incertezas que cobrem.
Tenho, devo, preciso acordar deste
pesadelo inferno que me
afunda há séculos.
Grito o que resta.
Problema é o tempo que não passa e
queima diabo no corpo.
João Gonçalves
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