Ela construiu um
abismo entre nós. Terá noção da dor que isso causa? Estará sofrendo também? Desse
lado, onde tudo é escuro e sério, não há mais nada além de luto e saudade. Entretanto,
daqui posso ouvir suas risadas: percebo que a felicidade se apropriou dos
momentos em que ela não está sozinha.
O que
me resta? Parte de mim não quer que eu supere, insiste em estar apegada ao
rascunho de um sonho. Ela, porém, da última vez que nos vimos, parecia
convicta. Suas palavras saíam automaticamente... A indiferença cortou-me em
vários pedaços e sua pele tornou-se áspera para os meus dedos. Mesmo assim, por
sentir-me muito envolvido, continuei insistindo. Talvez estivesse enganado, mas
achava que ela ainda queria. Quem sabe estivesse lutando consigo mesma dentro
daquele coração tão perfeito. Ah! O coração que tanto tenho desejado!
Não
me imagino sem ela. Na verdade, não quero de volta a rotina que sempre havia me
enganado. Conheci o lado lindo da vida e não estou apto a abrir mão dele de uma
hora para outra. Sofrerei muito, tenho plena certeza. Ah! O desespero embaralha
meus sentimentos! Sei que devo esquecer, mas não posso, pois meu coração ainda
treme de esperança. É impensável para mim a possibilidade de não tê-la. Não há opinião
nem entre os mais céticos sobre a certeza que se apossa dos corações
apaixonados. O Sol nasceu, está surgindo outro dia. Não estou pronto para nada,
mas levo a vida de gota em gota.
Exponho
agora o meu medo de palavras mordazes. Fujo impacientemente de assuntos que me
deixam comovido. Quando estou triste, exagero. Qualquer verdade a mim proferida,
dói como uma serra atravessando meu corpo. Confesso não ser de todo inocente: falei coisas sofridas quando estava desesperado. Só de pensar no que eu disse,
meu coração acelera. Que saudade dos suspiros que inúmeras vezes trocamos!
Sim,
sou uma expressão da loucura, mas se trata de uma loucura apaixonada. Darei
prosseguimento à minha vida, e enquadrarei aos poucos o que estou sentindo na
sessão da minha casa onde estão à mostra os quadros das grandes desesperanças. Não
estou convicto, pois o conflito persiste em meu peito e ainda espero que ela,
num insight que posso chamar de revolucionário,
perceba que sou como ninguém e que valho o mais caro sacrifício. Nesse
instante, poderia estar cantando, lavando louça ou perdida ao se lembrar
dos momentos que juntos vivemos. Deixe estar, coração, não se apegue a outras
ilusões profanas! Não existe mais um mestre da vida: cada dia é construído
através do movimento entre o que eu acredito e as circunstâncias espalhadas por
onde atravesso. Deixe os dias passarem. Só amanhã terei certeza das coisas que
não me aconteceram hoje. Para longe, coração, deixe a febre da loucura!
Fernando Costa e Silva
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