domingo, 1 de setembro de 2013

Sujeito a Guincho

Eu já morri mil vezes
e estou cansado.
Cansado como o tempo
que bate firme a vidraça
quebrando-lhe os nós.
Faço gato e sapato da vida
e, sentado sobre o céu cheio de cabeças do mundo
consigo, enfim,
passear de mãos dadas a outras que não as suas.

Eu, criança de braços abertos
você, moça de pernas abertas.
A torto e a direito ouvem-se tiros
temores, feridas profundas.
Esta fumaça não emana
de nada que lhe é referente.

Há uma tempestade anunciada
que levará tudo que em vão persistiu.
Melhor mesmo seria se todos morressem
de suicídio bem planejado
ou fim súbito.
Morte por desgosto
ou coração partido.

E, após,
o perdido pó
do que um dia foi poeta
volta a tona
e taca-lhe fogo.



 João Gonçalves

Um comentário:

  1. Não, o suicídio não é o melhor caminho, mas a morte de outros, talvez, kkk. Espere: não necessariamente a morte física, mas a do sofrimento, a morte das lembranças que amofinam, dos sonhos que dilaceram, das atitudes que mortificam. Morte do amor que mata: isso sim seria bom. Cultivemos o desapego!

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