quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Regresso


      Estou de volta. Sim, retomo a pena, tanto a da escrita quanto a da lamúria. Por quantas experiências não passei neste breve recesso? Confesso que redescobri a amizade: a mim ela se afigura em um porte médio e um cabelo despenteado. Não direi que tudo está em ordem para não incorrer em falácia, mas, ao que interessarem-se, cá estou. Menos fulgurante que uma Fênix, mas tão esperado quanto Superman (não no sentido do ansioso, mas no da obviedade). Sim, cá estou, como esperava que acontecesse.
      Perdi meu talento? A quantas andam minhas emoções sinceras? O que passou ficará para trás, como os singelos dias de minha infância. Sei que não sou o único que padece de saudade, mas estou entre aqueles que sabem lidar com lembranças. E assim, exprimo uma renovação que tornar-se-á outra regra de meu cotidiano: não mais relativizarei as angústias, as tormentas, os pecados, as digressões e a falta de oportunidades: a partir de agora, tomarei tudo como um aprendizado essencial para a constituição da minha personalidade, e peço aos bons que estejam comigo, afinal, basta ser humano para desfrutar das belezas dos bens terrenos. O paraíso é aqui e está ao alcance das mãos, destas mãos de poeta náufrago.
      A noite pertence ao melhor artista, aquele que cultua a si próprio e é um poço de vaidade e indiferença. Do palco, com o microfone em minhas mãos, eu observava a ignorância. Por conta disso, cansei-me das vãs atitudes e, a partir de agora, serei o trovador dos grandes banquetes, cujo gosto poético seja realmente autêntico. Que as portas da casa real para mim sejam abertas, assim como as pernas da rainha.
      Ah, como estou feliz por regressar ao trabalho. Abram outra garrafa de cerveja: deixem que esse líquido amargo traga à tona meus segredos. Não há mal nenhum em sofrer um bocado, mas, ao poeta romântico, rogo para que estejam sempre latentes as forças da dignidade. Amanhã vai ser outro dia, e mês que vem outro ano. Rondemos pelo mundo em busca de prazeres. Hora de transgredir o efêmero. Aproveitemos com vontade nosso breve momento nesta terra.

Fernando Costa e Silva

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