O poeta está perdido.
Está sem óbvios caminhos
está desestruturado
familiarizado com qualquer tipo de
infelicidade
infidelidade
e descaminho.
Está estilhaçado
sem ideias rentáveis.
Está num momento irrisório e irônico da
vida.
Avacalhado
e desiludido.
O vento que lhe bate o rosto
não é o vento que apaga lembranças.
Lembranças que tornam-se versos
torturantes
inconsistentes
e, diabos, decorados.
Tantos meandros
tantos pecados
insolúveis cigarros contaminados.
Não há nada pior nesta vida que ser
poeta.
João Gonçalves
"Não há nada pior nesta vida que ser poeta". Isso é fardo insuportável, agulhas entrando por todos os poros do corpo, cenas constantes de tortura passando em frente dos meus olhos. Mas deixe estar, louvável é o esforço irônico de rir da própria lamúria, oferecê-la à galhofa numa bandeja de palavras. Quero ouvir seu sofrimento na mesa de um bar, acompanhado de loiras geladas, pois a formalidade é desnecessária em se tratando de desabafos.
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