Entre os cultos, existem aqueles cuja insegurança em relação ao
mundo faz com que se enclausurem entre as quatro paredes de sua
própria consciência. Mostram-se como os detentores da verdade
absoluta: são homens incontestáveis, cujas assertivas devem ser
seguidas e difundidas aos quatro cantos do mundo. Entretanto, sua
essência é um quarto escuro. Ainda que queiram a idolatria, omitem
suas faces, escondem-se em suas camisas e choram à luz de velas. O
diabo é seu vigia particular. São sábios, sábios alucinados.
Existem também aqueles cujo conhecimento é superficial, utilizado
em campanhas de autopromoção e em calorosas conversas de boteco.
Querem ser idolatrados, obter o reconhecimento dos catedráticos e o
temor dos que os cercam. No fim das contas, não passam de diletantes:
assistem ao Faustão no domingo e baseiam suas opiniões em jornais
sensacionalistas e conversas informais. O que me surpreende é a
capacidade de repercutirem suas falas, de angariarem fãs e serem
grandemente reconhecidos. Para onde irei se não participar do
programa da Ana Maria Braga? O que posso fazer se me preocupo em
demasia com estas coisas?
É necessária minha posição em relação aos fatos e às
circunstâncias que se apresentam. Não posso ignorar os diletantes
nem os que se julgam superiores, pois a convivência social pode
estar sendo maculada pela presença desses intransigentes. Minha
juventude não permite que Oloares Ferreira ou Arnaldo Jabor
continuem a formar a opinião dos trabalhadores que não tem acesso à
verdadeira Humanidade. E se meu discurso tomou ares idealistas nesses
últimos momentos, saibam que se trata de um engajamento louvável,
cujos objetivos tem me preenchido. Adeus, sentimentalismo. Bem vinda,
visão negra do mundo.
Fernando Costa e Silva