É a politização da poesia. Derrubemos os muros que nos separam da
realidade. Por meses, mantive as mais absurdas esperanças em meu
coração, mas minha vida pouco mudou pela influência de meus versos
vulgares. As jornadas de junho não possuíam nenhum ar romântico ou
utópico. Vimos a luta concreta, a capacidade de transformação das
coisas, sejam quais forem, sejam quais forem seus pretensiosos donos.
Tendo esse contexto em mente, serei como a cheia do rio, e invadirei
as casas da população miserável que trabalha e sofre, que peca e
se arrepende, que sobrevive. O sentimentalismo piegas tornar-se-á
força de combate, e a morte, presente nos mais melancólicos versos
deste poeta, cederá seu espaço à luta pela liberdade.
A poesia será o palco de discussão das pautas. Aos companheiros
que estiverem comigo nesta luta, dedicarei os meus versos. Hei de me
expressar contra a opressão histórica que atravessa a humanidade, e
me empenharei pela conscientização dos que passarem junto ao rio
que atravesso. A partir de agora, minha poesia põe o teor
escatológico de lado, deixando de crer em um fim de mundo que seria
puro pessimismo. Neste momento, abrem-se as portas de novas
possibilidades. Cantarei o fim deste mundo que é opressão, e
abrirei os braços para uma sociedade igualitária.
Como disse Marx: “A vida social é essencialmente prática. Todos
os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua
solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis”
(Teses sobre Feuerbach). É tempo de relembrar as crises do passado.
É hora de transformar o presente.
A poesia social de Gullar vai ser revisitada. Me empenharei pelo
popular, pela capacidade de transformação latente nas massas. Que
meu esforço perdure e venha a ser significativo. Que a poesia me
transforme e influencie o mundo que me rodeia.
Um último brinde aos poemas tristes que maculavam meu coração
ingênuo! Saudações ao racional e prático que se manifesta agora!
Deixo o romantismo de lado. Que venha o radicalismo. A luta por um
amor proibido cederá lugar à luta classista. Abaixo à opressão de
classes!
Fernando Costa e Silva
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