sexta-feira, 28 de março de 2014

20 anos

            Este trabalho tem por objetivo saber por que tudo é uma merda quando se tem 20 anos de idade. Para isso, partimos da premissa de que tudo é uma merda quando se tem 20 anos de idade. O recorte temporal estabelecido coteja os 20 anos de idade do autor, considerados uma merda. Os conceitos a serem trabalhados são os de rebeldia sem causa, fobia a responsabilidade, inconsequência e desapego, além do conceito de merda. Este último é especialmente definido: merda é o que poderia ter sido; a desagregação de planos ou a incerteza de passos que precisam ser dados; o resultado de um desapontamento. Muito mais do que aquilo que não serve ao organismo, a merda é o que sobra das esperanças de quem luta, no constante jogo do mastigar e engolir, pela preservação da vida e reabastecimento das forças. É o que fica depois que a dedicação passa pelo sistema digestivo: sem nenhum remorso, lá vai descarga!
            A vida só é uma merda quando se tem 20 anos de idade, porque o senhor adolescente que considera a vida uma merda quando se tem 20 anos de idade, acha que o mundo gira ao redor de sua merda, ou melhor, vida. Porque percebe que escolhas precisam ser feitas para que a fase adulta comece. Este pequeno rebelde passa a perceber que já se passaram 20 anos de vida, quer dizer, de merda, e pouco de relevante foi feito por suas mãos. Nessa idade, seus tios já trabalhavam... Muita gente já estaria rica aos 20 anos... O que é isso que estou ouvindo? Legião Urbana?
            Nesse mortal jogo do vai e vem, de pretensas amizades, delírio ao alcance das mãos, baile das aparências, relações de interesse e embrutecimento precoce, cresce a erva daninha. De que maneira desapegar-se e perder as esperanças? Mais uma vez, o coração romântico se desespera. Seus caros amigos, acumulados no decorrer desses 20 anos (de merda), poderão ouvir seu pulsar cada vez mais acelerado? E se ouvirem, poderão prestar socorro? Venha, solidão, venha! Procurem o avião que livrou-se do mundo, e tragam-no de volta aos homens que choram culpa!
            Conclui-se que nada serve e nada vale. Nada vale. Entretanto, torna-se necessário crer que um dia, quando porcos tiverem que vender seu lombo a fim de garantir seu sustento, quando as sereias se sentirem ameaçadas e derem falta do conforto que é o fundo do mar, quando pedirem que laços sejam reatados, mas encontrarem a corda queimada, a merda esteja lá, firme, forte e potente, entupindo o fluxo hidráulico e provocando derramamento de água suja pela casa. Há que crer no futuro, moçada!


Fernando Costa e Silva

quarta-feira, 19 de março de 2014