Essa postura
egoísta pode me enterrar de pouco em pouco. Repare na maneira com
que ela se esforça para me fazer bem: cada mensagem que envia, pelo
fato de estarmos a anos luz de distância um do outro, é como uma
gota de carinho que transborda minha taça. É, tenho sido um mau
marido, reconheço publicamente e dou minha cara à tapa. Poderei
redimir meus erros?
Pedir beijos para
alguém que está em outro estado, e ficar mal porque não posso ser
atendido? Quanta insensatez, homem do tempo! Deixe a viagem passar.
Daqui a poucos dias, estaremos juntos novamente, como sempre
quisemos.
Ela busca as fotos
dos lugares que atravesso. Eu, em minha profunda infantilidade, não
consigo mais encarar seu retrato. Entretanto, minha atitude é
explicável: muito medo de perdê-la, de acordar sabendo que não é
mais minha.
Comprei um
porta-joias. Quando regressar à nossa casa, ainda que seja por pouco
tempo, hei de entregá-lo em suas mãos. Nessa caixa vai uma carta:
espero que seja a mais linda que já escrevi. Junto dessa carta,
minhas juras de amor sinceras, pois já fiz muitas promessas que não
cumpri. Deixarei bem claro, através de minhas palavras, que
esperarei o tempo necessário para que fiquemos efetivamente juntos.
Ela se lembra de
cada coisa... Surpreendo-me com os assuntos que aborda em nossas
conversas diárias. É uma garota fascinante. Eu que não me toco, e
prefiro estar mergulhado em um mar de nervosismo abrupto.
Nem o oceano
parece lindo quando estamos em maus momentos. Nossas brigas corrompem
o ar, tiram os gostos das coisas boas. Pode ser que melhore quando eu
estiver mais perto de casa. Se isso não ocorrer, sei que mereço
pagar pelos meus pecados. Mas se ela me der outro sorriso lindo, e
acariciar minhas mãos com extrema delicadeza uma vez mais,
permanecerei convicto das coisas alegres da vida, e tentarei ser mais
calmo, sem receita médica mal escrita ou uso convencional de
calmantes.
E os filmes de
amor ainda me arrepiam profundamente...
Fernando Costa e
Silva